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terça-feira, 12 de abril de 2011

Grande Leila Ferreira

Adorei esse texto e compartilho com os amigos.

Vocabulário feminino

Leila Ferreira


Se eu tivesse que escolher uma palavra – apenas uma – para ser item obrigatório no vocabulário da mulher

de hoje, essa palavra seria um verbo de quatro sílabas: descomplicar. Depois de infinitas (e imensas)

conquistas, acho que está passando da hora de aprendermos a viver com mais leveza: exigir menos

dos outros e de nós próprias, cobrar menos, reclamar menos, carregar menos culpa, olhar menos

para o espelho. Descomplicar talvez seja o atalho mais seguro para chegarmos à tão falada qualidade

de vida que queremos – e merecemos – ter.

Mas há outras palavras que não podem faltar no kit existencial da mulher moderna. Amizade, por exemplo.

Acostumadas a concentrar nossos sentimentos (e nossa energia...) nas relações amorosas, acabamos

deixando as amigas em segundo plano. E nada, mas nada mesmo, faz tão bem para uma mulher quanto

a convivência com as amigas. Ir ao cinema com elas (que gostam dos mesmos filmes que a gente),

sair sem ter hora para voltar, compartilhar uma caipivodca de morango e repetir as histórias que já nos

contamos mil vezes – isso, sim, faz bem para a pele. Para a alma, então, nem se fala. Ao menos uma

vez por mês, deixe o marido ou o namorado em casa, prometa-se que não vai ligar para ele nem uma

vez (desligue o celular, se for preciso) e desfrute os prazeres que só uma boa amizade consegue

proporcionar.

E, já que falamos em desligar o celular, incorpore ao seu vocabulário duas palavras que têm estado

ausentes do cotidiano feminino: pausa e silêncio. Aprenda a parar, nem que seja por cinco minutos, três

vezes por semana, duas vezes por mês, ou uma vez por dia – não importa – e a ficar em silêncio. Essas

pausas silenciosas nos permitem refletir, contar até 100 antes de uma decisão importante, entender

melhor os próprios sentimentos, reencontrar a serenidade e o equilíbrio quando é preciso.

Também abra espaço, no vocabulário e no cotidiano, para o verbo rir. Não há creme anti-idade nem botox

que salve a expressão de uma mulher mal-humorada. Azedume e amargura são palavras que devem ser

banidas do nosso dia a dia. Se for preciso, pegue uma comédia na locadora, preste atenção na conversa

de duas crianças, marque um encontro com aquela amiga engraçada – faça qualquer coisa, mas ria. O

riso nos salva de nós mesmas, cura nossas angústias e nos reconcilia com a vida.

Quanto à palavra dieta, cuidado: mulheres que falam em regime o tempo todo costumam ser péssimas

companhias. Deixe para discutir carboidratos e afins no banheiro feminino ou no consultório do

endocrinologista. Nas mesas de restaurantes, nem pensar. Se for para ficar contando calorias,

descrevendo a própria culpa e olhando para a sobremesa do companheiro de mesa com reprovação e

inveja, melhor ficar em casa e desfrutar sua salada de alface e seu chá verde sozinha.

Uma sugestão? Tente trocar a obsessão pela dieta por outra palavra que, essa sim, deveria guiar nossos

atos 24 horas por dia: gentileza. Ter classe não é usar roupas de grife: é ser delicada. Saber se comportar

é infinitamente mais importante do que saber se vestir. Resgate aquele velho exercício que anda

esquecido: aprenda a se colocar no lugar do outro, e trate-o como você gostaria de ser tratada, seja no

trânsito, na fila do banco, na empresa onde trabalha, em casa, no supermercado, na academia.

E, para encerrar, não deixe de conjugar dois verbos que deveriam ser indissociáveis da vida: sonhar e

recomeçar. Sonhe com aquela viagem ao exterior, aquele fim de semana na praia, o curso que você

ainda vai fazer, a promoção que vai conquistar um dia, aquele homem que um dia (quem sabe?) ainda

vai ser seu, sonhe que está beijando o Richard Gere... sonhar é quase fazer acontecer. Sonhe até que

aconteça. E recomece, sempre que for preciso: seja na carreira, na vida amorosa, nos relacionamentos

familiares. A vida nos dá um espaço de manobra: use-o para reinventar a si mesma.

E, por último (agora, sim, encerrando), risque do seu Aurélio a palavra perfeição. O dicionário das

mulheres interessantes inclui fragilidades, inseguranças, limites. Pare de brigar com você mesma para

ser a mãe perfeita, a dona de casa impecável, a profissional que sabe tudo, a esposa nota mil. Acima

de tudo, elimine de sua vida o desgaste que é tentar ter coxas sem celulite, rosto sem rugas, cabelos

que não arrepiam, bumbum que encara qualquer biquíni. Mulheres reais são mulheres imperfeitas. E

mulheres que se aceitam como imperfeitas são mulheres livres. Viver não é (e nunca foi) fácil, mas,

quando se elimina o excesso de peso da bagagem (e a busca da perfeição pesa toneladas), a tão

sonhada felicidade fica muito mais possível.

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