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Belo Horizonte, MG, Brazil
Sou uma pessoa simples, que fez da música a razão de viver.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Cantar Porque - Meu novo livro

Eu tenho duas datas de nascimento, nasci em seis de abril de 1945, a primeira vez e a segunda em 1980. Em 1945 vivi uma infância saudável na casa da vovó, rodeada de tias e primos, amigos da vizinhança e tudo o que, naquela época existia de normalidade na vida. Desde muito pequenininha, eu já gostava de cantar. Lembro-me perfeitamente que, em minha terra tinha um programa de auditório, na rádio local e lá me inscreveram para cantar. Eu contava apenas três anos de idade, mas sabia direitinho tudo o que me ensinavam e foi o Jairo, filho da Tia Nininha, visinha da casa da vovó, quem ficou incumbido de me ensaiar. Sentados no jardim da casa, êle ia me ensinando os trechos da música. A música era um grande sucesso carnavalesco da época: “Você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não...” Chegou o grande dia, me levaram toda de vestidinho novo, cabelo com aquele enorme laço de fita, pelas mãos da madrinha e do Jairo. No auditório a expectativa era grande e em casa, todos em volta do rádio, atentos ao programa. Quando o locutor falou meu nome, Sonia Maria, entrei no palco toda cheia de graça. O microfone em seu pedestal, ficava bem alto para o tiquinho de gente que eu era e foi preciso trazer um banquinho, no qual me colocaram em cima para que eu alcançasse o microfone. Cantei direitinho, para alegria das tias e da vovó, que ficara em casa com o ouvido colado no rádio, acompanhando tudo. Não faltaram lágrimas, enxugadas nos aventais. A vizinhança toda comentando depois do programa e o assunto seguia pelo bairro todo. De volta a casa, foi aquela festa e o sucesso permaneceu contado por longo tempo. Daí até coroar Nossa Senhora, vestida de anjo, nas festas da igreja, minha pequena fama de cantora já se espalhava, era assunto das comadres, das madrinhas e o orgulho da vovó. 

 




 

Vestí de anjo, coroando Nossa Senhora, até meus 10 anos de idade, por ser pequenininha. O mês de maio era esperado por todas as crianças que queriam vestir de anjo e coroar Nossa Senhora. As tias esmeravam na confecção das roupas e das asas dos anjos, além das amêndoas deliciosas, cuidadosamente preparadas para aquela época do ano, onde as festas da igreja eram muito bem comemoradas. Outros programas de auditório, sempre fazendo bonito, como diziam as tias. O tempo foi passando, terminado o período de Grupo Escolar, passei no curso de admissão ao ginásio, como era na época, a quinta série. Nessa ocasião, morando em casa da vovó, íamos passar as férias em casa de meus pais. Éramos três irmãos, eu o Jorge (do meio) e minha irmã mais velha, Maria José, a quem chamávamos de Biseca. Eu e Biseca morávamos com a vovó e o Jorge ficava com meus pais. Nossa vida foi sempre marcada por mudanças, pois meu pai era muito aventureiro e carregava a família para onde achasse que daria certo ficar, e na maioria do tempo, ficávamos com a vovó para podermos estudar. Numa das férias em que fomos passear em casa de meus pais, vi um acordeon que mamãe havia comprado, pensando em ter o Jorge encaminhado na música. Mamãe, como toda boa italiana, amava a música, vivia cantarolando algumas canções de sua terra natal, que a gente aprendia com ela. Em incontáveis momentos de grande emoção, os olhos transbordando de lágrimas enquanto suspiros profundos lhe deixavam pensativa e com saudades dos entes queridos que deixara na Itália. Contratara um professor que fivava horas tocando com Jorge, que nada aprendia, por não gostar daquilo. Pedí a mamãe que me desse o instrumento para que eu pudesse aprender a tocar e, ela muito contrariada com a atitude do Jorge, me deu o acordeón de presente. De volta das férias, trazendo meu acordeon, comecei logo a estudar com a professora D. Lolinha.  Em pouco tempo eu fazia grande progresso no instrumento e me apaixonei por ele. O pai de D. Lolinha era um velho saxofonista na cidade e toda vez que me via por lá, estudando o acordeon, corria a buscar seu saxofone para tocarmos algumas valsas juntos. Eu ainda inesperiente, mas muito interessada, catava as notas para acompanha-lo, mas nos tornamos grandes amigos. No Ginásio, tínhamos aulas de Canto Orfeônico, era como se chamava a matéria música. O professor Bastos, marido de D. Lolinha, era quem nos ensinava as primeiras noções de teoria da música. Era também nosso professor de latim, francês e português. Gostava muito de compor as canções da escola e sempre chegava com uma melodia nova, que eu tratava logo de aprender a tocar, para fazer bonito na escola.