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Belo Horizonte, MG, Brazil
Sou uma pessoa simples, que fez da música a razão de viver.

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Em Tempo de Pandemia

 Em tempo de pandemia, nossa voz se cala com muita tristeza.  Vemos nossos amigos músicos passando grandes dificuldades e sem trabalho.

Graças a Deus nosso Estúdio sempre tem trabalho, mas não poder cantar é algo que nos machuca a alma.

Felizmente, sabemos que, quando tudo passar, teremos trabalho garantido, pois deixamos portas abertas que nos aguardam sempre com muito carinho e um público fiel que nos acompanha sempre.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

A Vida no Sítio

 

Situações aconteciam de improviso, como um dia em que eu acabara de chegar no terreiro, quando vieram me chamar depressa que uma criança estava para nascer.  Não havia tempo de levar aquela mãe ao hospital e ali mesmo, fiz o parto, como havia aprendido com o veterinário a cuidar dos porcos, que eram tratados como gente.   Conversávamos bastante e ele me explicava como era na linha humana, então me atrevi a colocar aquela criança no mundo.

Assim que tudo estava feito e a mãe com o bebê no colo, coloquei todos no carro e rumei para o hospital para ver se estava tudo certo.  Recebi elogios dos médicos e me animei.

Depois desse intento, passei a ser tudo para eles e até ordem nas casas,quando havia uma briga de casal que chegasse ao extremo de pancadaria, eu corria a atender e pregar um bom sermão no marido, ameaçando se acontecesse outra vez e o respeito foi se instalando.

Certa vez, fui acudir uma criança com fortes dores de cabeça e já tendo convulsões, corri com ela para o hospital e quando a peguei no colo para entregar ao médico, eram seus últimos instantes de vida.  Foi muito triste e eu me lembrava do meu filhinho que se fora também.  Abracei aquela mãe e lhe dei todo o carinho que pude.

Tínhamos um enorme canavial e grandes pastos, onde a mão de obra era usada e muito comum aparecer alguém mordido de cobra.   Quando isso acontecia, eu aplicava o soro ati ofídico e corria com a pessoa para o hospital.  Machucados, eu mesma tratava e todos tinham a maior confiança em mim.

Algumas vezes eu reunia todos, tocava acordeon, eles cantavam, contavam causos e a vida ia seguindo.

Dois anos mais tarde, nasceu minha filha, para alegrar meu coração de novo.   Embora eu quase não tivesse sobrevivido ao parto, voltei pra casa com minha filhinha nos braços e uma nova esperança na vida.

A lagoa grande, nos fundos da casa, tinha um barquinho a remo que eu usava para ir do outro lado da margem, visitar um velho amigo que era tomador de conta de uma fazenda vizinha.  Sr. Tião, como todos o conheciam, já idoso, mas muito disposto e gostava de uma boa prosa.  Vinha nos visitar  e sempre trazendo algum agrado, eu fazia uma broa de fubá e conversávamos bastante.  Quando íamos visita-lo, eu e as crianças usávamos o barquinho e levávamos bolo para ele.

Era uma alma boa, vivia sozinho ali, quando fazíamos algumas festinhas no sítio ele era o convidado especial.  No Natal, usava  uma roupa de Papai Noel que eu mesma fizera para ele e um saco  cheio de presentes, balas, biscoitos, brinquedos, tudo o que ele pudesse carregar e ele saí pela estrada a visitar os pequenos sitiantes, chegando quase a noitinha para me contar por onde tinha andado.  Era muito bom saber que certas crianças no meio do mato só tinham aquele Papai Noel que todo ano era esperado.

Eu me dediquei de corpo e alma a minha nova atividade.   Procurei assistência para conhecer melhor sobre meus empreendimentos, fiz cursos para saber administrar e participava de congressos sobre avicultura, suinocultura, feiras e exposições agropecuárias, onde tinha o orgulho de ganhar prêmios.

Apesar de todo o progresso, das pessoas que me cercavam, das atividades do sítio, minha vida no lar era um desastre e quando minha filha nasceu e eu soube que não teria mais filhos, não deu mais para suportar e acabei me separando e ficando só com meus filhos. 

 

sábado, 20 de março de 2021

Seguindo em Frente

 

Uma grande reviravolta na vida e fomos morar em um sítio distante da cidade.   Eu aprendera a dirigir carros e a conduzir a nossa vida com coragem e muito trabalho.

Alguns anos de trabalho em que eu aprendera a comandar  tudo o que a vida me apresentava. Um coisa é certa, eu sempre me adaptei a tudo o que a vida me apresentava,  se tive que dar uma guinada na vida, eu ia aceitar aprender o novo e assim foi.   Em raros momentos, eu contava minhas mágoas ao velho acordeon, me deleitando com os sons que conseguia tirar dele.  Algumas vezes, procurava um local à beira de um lago, ali sentada com o acordeon, passava um tempo tocando e cantando sozinha, para espantar as mágoas que iam aparecendo.

Tivera dois filhos, até ali, mas o segundo, Deus levou com menos de dois anos, deixando um vazio enorme em meu coração.  Foi difícil suportar, depois de vê-lo correndo pela casa, falando o tempo todo e, de repente adoecer, sofrer tanto e morrer daquela forma.

A tristeza e saudade machucavam demais meu coração, tão jovem ainda, com apenas vinte e dois anos de idade.   Mas ainda tinha um filhinho para cuidar e a vida de muita gente para tocar em frente. 

 


A vida no sítio era um progresso total, muito trabalho e até contratamos um veterinário que visitava tudo uma vez por semana e com ele fui aprendendo a lidar com tudo, até com os humanos, nossos agregados.   Nessa altura, eu tinha uma sala ao lado da casa, onde funcionava uma farmácia e enfermaria.  O sítio ia ficando povoado, eram oito famílias morando e trabalhando lá.

Crianças começavam a aparecer e eu gostava de participar da vida daquelas pessoas.   Me reunia com todos e orientava naquilo que eu já aprendera da vida.


quarta-feira, 10 de março de 2021

Capítulo 5

 

Eu, sem muitos planos ainda, me dedicava a música e, além de trabalhar no escritório, dava aulas de acordeon pela cidade e minha  fama ia se espalhando, apareceram tantos alunos que recebí uma oferta de um grande espaço para montar a escola de música, era um salão da Cia. Vale do Rio Doce, um pequeno clube, onde aconteciam bailes de vez em quando.   Um palco, de um lado do salão, com um grande piano, uma bateria e um contrabaixo acústico.  Ali eu recebia os alunos que foram se multiplicando.   Os velhos músicos da cidade me procuravam para conversar sobre música e tocar o meu acordeom  acompanhando um saxofone ou um violino ou um bandolim. Apesar da minha pouca idade, aqueles senhores de sessenta e setenta anos, falavam a mesma linguagem musical que eu e os assuntos eram intermináveis.  Os saraus na escola eram apreciados pela vizinhança.   Muitas vezes tocávamos na praça, com muita cantoria e o povo se aglomerava para ouvir.

O padre da paróquia próxima lá de casa, queria que eu formasse um coral para a igreja.  Pronto, agora eu já tinha o que fazer da vida.

Mas como a minha história tinha pressa de ser concluída, conheci, lá no escritório o meu futuro parceiro.   Confesso que ele não me despertou grandes emoções naquele primeiro encontro, meu coração estava muito doído para querer qualquer outro sentimento.    Mas ele se interessou e investiu na conquista.  A diferença de idade, vinte anos a mais que eu e outros detalhes, não contribuíam para o desenvolvimento daquela aventura, mas resolvi dar uma chance ao destino e foi assim que ele entrou na minha vida.

Minha família foi toda contra logo de imediato, ele era quase negro, muito mais velho, bebia demais, enfim, nada que eles queriam  para a filha caçula, mas determinação, era uma coisa latente em mim.    Me apaixonei por ele, aceitei um pedido de casamento em cinco meses e me casei antes de completar a maioridade.

Mas quis o destino que tudo fosse diferente e, em pouco tempo conheci um empresário da cidade, que se encantara por mim.

Quando ele apareceu lá no escritório do Seu Barão pela primeira vez, depois que comecei a trabalhar por lá, confesso que nem notei muito a sua presença.   Me explicou, seu Barão, que fazia a escrita da firma dele e por isso ele aparecia lá de vez em quando para saber de algum detalhe.

Depois de me ver por lá, então, passou a frequentar mais o local e, quando saía, seu Barão comentava que ele se encantara comigo.


Eu nem me lembro como tudo começou, mas foram cinco meses entre namoro, noivado casamento.

No primeiro mês de namoro, junto com as alianças ele me deu um belo acordeom de presente e me conquistou, apesar da nossa diferença de idade, ele era 20 anos mais velho que eu.

 

 Também, a vida já me reservara tantas mágoas nos últimos tempos,  que eu nem saberia distinguir qualquer sentimento que não fosse relacionado a música.    Me casei, me tornei mãe, meu acordeon já ficava de lado por falta de tempo para tocar.